A festa de Santo António - pretexto para recordar outros tempos.

14-08-2011 00:12

 

Bombos de Nisa – Festa de 2011

 

Dia 10 de agosto de 2011.

Na semana a seguir à “Festa”[1] alguns utentes do Centro de Dia aceitaram falar das suas recordações.

O desafio consistia em conhecer o que lhes vinha à lembrança do tempo em que eram mais jovens e viviam intensamente a Festa.

Nem todos estavam presentes. Vários, sobretudo os homens mas também a ”Menina “ Joana, chegaram mesmo em cima do jantar. Por esse motivo não foi possível recolher as suas memórias. Outra vez será.

Faltou ouvir, ainda, os utentes do Apoio domiciliário. Mas não estão esquecidos.

Aqui ficam os testemunhos já recolhidos:

Maria Manuela Franco

 

Durante muito tempo não fui à Festa. Estava a servir[2] em Nisa.

Pedia à minha patroa:

 -  A senhora hoje deixa-me ir à festa?

  - Deixo, mas não venhas tarde!

 Depois eu ia ter com outra rapariga que estava a servir ali numa casa perto. E lá íamos para a Festa de Nisa.

Mas cá havia bailes no salão da Ti Palheta[3]. O toque era de concertina.

A Festa era mais ou menos na mesma.

Maria da Rosa e Maria Ribeiro[4]

A festa dantes era como agora mas tudo mais pobre, sem estas grandezas.

Dantes não havia padarias. O pão era amassado em casa e cozido em fornos de padeiro. Dava-se um pão ao dono do forno – a poia.

Quando o pão se amassava e quando se tendia fazia-se uma cruz no pão, com a mão, e dizia-se:Deus te acrescente que é para muita gente. Também se carregava na massa, com o dedo, e se faziam, em cruz, 5 marcas que eram as 5 chagas de Cristo.

Havia 3 fornos. Os mais conhecidos eram os da Sra. Emília e o do Sr. Zé Bastos, que era lavrador, tinha muitas terras. O forno dele foi o que cozeu mais.

Um forno era onde era a casa da Mari de Jesus, que tem agora a padaria que era do Adelino.

A farinha era comprada aos moleiros. Os moinhos eram na ribeira do Figueiró. Os mais fortes eram os do João Valente e os do Adelino, que depois tiveram padarias. O João Valente tinha uma moagem na padaria.

Havia também moinhos de gente dos montes e doJaquim Gato.

A gente às vezes comprava a farinha outras vezes podíamos dar o grão a moer. Às vezes os moleiros vinham buscar o grão a casa. Levavam depois em burros para os moinhos. E depois traziam a farinha.

 - Para mim (Maria Ribeiro) o dia de amassar era uma festa. Eu gostava. Trabalhava no campo mas nesse dia não ia. Amassava e limpava. Mas era uma festa.Com a massa do pão e azeite fazíamos bolos, eram os bolos de azeite. Até se esterroavam na boca.

Na festa faziam-se os bolos da festa conforme se podia: esquecidos, bolos de azeite, bolos fintos, borrachões, boleimas e cavacas. As cavacas eram secas numa rede larga, na rua, porque depois de cozidas eram pintadas com açúcar. E tinham que secar.

E às vezes fazia-se arroz doce.

E na festa a gente cantava e bailava que era uma beleza! Trabalhávamos muito mas também nos divertíamos muito.

Maria Antónia Mendes

Cantar e bailar. Gostava muito de cantar e bailar. Divertia-me bem.

Belo tempo!

Eu cantava e bailava muito bem. Fazíamos récitas mas a minha mãe não me deixava ir.

Uma vez a Mari Antónia Borrego foi a nossa casa pedir para eu ir mas a minha mãe disse: na minha família não são comediantes!

E eu não fui. Mas tive muita pena.

Também cantava ao desafio no campo.

Era belo tempo. E o que vai já não torna.

Mas trabalhávamos muito.

 

(De acordo com o acordo ortográfico)

 

 

 



[1] Festa de Santo António, 1º fim de semana de agosto.

[2] Ir servir, como se dizia antigamente, equivale hoje ao trabalho de empregada doméstica.

[3] O salão da Ti Palheta era o que é hoje A Taberna do Rui, antes das obras. A Ti Palhetaera a avó do atual proprietário.

[4] Jantam na mesma mesa e já aí estavam sentadas. A senhora Maria Rosa, lá foi falando e acompanhando o testemunho fácil da senhora Maria Ribeiro.